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Projeto Bingo busca respostas para os segredos do universo
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Radiotelescópio será erguido no município de Aguiar, Sertão da Paraíba (Imagem Projeto Bingo)
Por Márcia Dementshuk
Marte, Vênus, Mercúrio; a Lua… Na rua à noite, sob um céu sem nuvens, distante das luzes das cidades, é como o cenário dos filmes de romance, o casal se aproxima e ao fundo está o rastro esbranquiçado da Via Láctea. Os astros se descortinam aos olhos parecem tão perto, mas estão distantes a milhões de anos-luz.
As estrelas visíveis da Terra são parte de uma das cerca de duas trilhões de galáxias que acredita-se existir no Universo. O telescópio Hubble coletou dados por 20 anos para revelar essa quantidade aproximada; um número tão grande que nos leva à ideia de infinito. Cada uma com milhões, bilhões de astros atraídos uns aos outros pela gravidade. Olhos humanos não alcançam.
O cosmos é uma das grandes incógnitas para as pessoas. A cada resposta encontrada surgem mais duas, três, cinco perguntas! Antigos filósofos babilônicos, egípcios, gregos… A história da humanidade é permeada pelas questões astronômicas até os dias atuais.
O homo sapiens acumulou conhecimento sendo capaz de construir máquinas geniais que calculam extensas equações, detectam ondas eletromagnéticas e guardam milhões de dados. Com tal domínio, é possível buscar algumas respostas com mais acurácia. É isso que o Projeto BINGO propõe.
“O BINGO trará respostas sobre o cosmos”, explica o físico Amílcar Rabelo, colaborador internacional do Projeto BINGO. “Sabemos que o Universo está em expansão, e essa expansão está acelerada; o que provoca a aceleração dessa expansão é a energia escura, mas não sabemos o que é a ‘energia escura’. Este nome reflete exatamente essa ausência de conhecimento. E o principal objetivo do Projeto Bingo é entender as propriedades dessa energia, se debruçar sobre a aceleração da expansão do Universo.”
Expansão é causada pela energia escura
Os físicos que estudam cosmologia concordam que o Universo está em expansão. Desde o Big Bang - o início de tudo - essa expansão pode ter sido mais rápida, ou mais lenta em determinados períodos, ainda não se sabe. Os cientista já descobriram que a força causadora dessa expansão é uma energia, mas as características dessa energia ainda são desconhecidas, por isso ela foi chamada de “energia escura”. “Ela é composta por elementos desconhecidos da ciência até hoje”, esclarece Amílcar Rabelo.
Boa parte dos pesquisadores descartam a ideia de explosão do Big Bang. O fato teria sido, sim, uma expansão inicial muito veloz de elementos que, ao mesmo tempo, se atraíam para formar a matéria - os corpos celestes, as galáxias. Tudo o que se conhece do Universo - e o que não se conhece -, estava no ponto inicial e está se expandindo. O Universo parte de uma singularidade, de um ponto, e vai expandindo sem parar.
A expansão ocorre entre as galáxias, entre as grandes concentrações de matéria, não entre os corpos que compõem as galáxias. Na Via Láctea, os planetas e suas luas, estrelas, cometas, não sofrem essa expansão; eles gravitam. Mas a Via Láctea está se afastando de galáxias vizinhas. É como fazer pontos em um balão (bexiga) vazio; ao encher, o balão se expande e os pontos se distanciam uns dos outros.
A descoberta acerca da expansão é atribuída ao astrônomo Edwin Hubble que publicou a teoria como artigo científico em 1927 em uma revista pouco lida pelos cientistas do meio, por isso acabou ignorado. Contudo, outros cientistas chegaram à conclusão originalmente proposta por Hubble e justiça foi feita designando o nome à “Teoria de Hubble”. Mas a comunidade de cientistas acreditava que a expansão estaria gradativamente mais lenta desde o Big Bang; até que em 1998 grupos de astrônomos demonstraram o contrário: está acelerando-se sob influência da energia escura. Então, novas perguntas surgem: Desde quando? Como se comporta essa energia?
BINGO irá mapear galáxias no Universo
Uma das formas de investigar o Universo é através das ondas eletromagnéticas emitidas por elementos que estão no cosmos. Um deles é o hidrogênio, tão familiar aos seres humanos, o número 1 da Tabela Periódica. Lá no cosmos os átomos de hidrogênio neutro emitem ondas de rádio (radiação) possíveis de serem captadas da Terra por radiotelescópios.
O radiotelescópio Bingo vai detectar a radiação emitida por átomos de hidrogênio e mapear onde eles se concentram. Onde for detectado um grande volume de radiação, é sinal de que ali há hidrogênio, por conseguinte, há matéria, ou seja, galáxias.
O BINGO vai apontar para um período determinado na “linha do tempo” (indicado no diagrama da evolução do Universo) em uma período do tempo bem na borda do "copo". E fará um mapa da radiação desse recorte. Esse mapa terá cores indicando onde estão concentradas as matérias (as galáxias). Com esse mapa em mãos, será relacionado o mapa feito pelo Bingo com outros experimentos, com outros mapas, para ver como essas concentrações evoluem. As galáxias estarão no mesmo lugar? Ou em lugares próximos? Qual a distância?
Dessa forma será possível calcular a ação da energia escura - a velocidade responsável pela aceleração da taxa de expansão do Universo.
“Com várias imagens de recortes em pontos diferentes no tempo será possível montar um filme dessas modificações e visualizar como estão ocorrendo. Isso trará mais esclarecimentos sobre a energia escura, nos ajudando a entender a evolução do Universo hoje e até projetar no futuro”, ressalta Amílcar Rabelo.
O projeto Bingo será um dos primeiros a fazer isso nessa faixa de tempo; será um feito inédito no mundo científico. É uma comprovação acurada da Teoria da Expansão do Universo.
Radiotelescópio será construído no Sertão da Paraíba
Radiotelescópio será construído na Paraíba
BINGO é o acrônimo em Inglês para “Baryon Accoustic Oscillation In Neutral Gas Observations” ou Oscilações Acústicas de Bárions em Observações de Gás Neutro. É um projeto de colaboração científica internacional, liderado no Brasil por Élcio Abdala, o coordenador geral, pesquisador na USP, onde é desenvolvida a parte de computação (simulações) e será feito o processamento de dados. A montagem das peças, os receptores chamados de “Corneta”, é realizada no Instituto de Pesquisas Espaciais sob a coordenação de Carlos Alexandre Wuenschel e outras peças são desenvolvidas na Universidade Federal de Campina Grande, com a coordenação de Luciano Barosi.
Está orçado em R$ 20 milhões; a maior parcela é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, Fapesp (R$ 13 milhões e US$ 1 milhão), pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (R$ 1 milhão); FINEP (R$ 3 milhões); Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba, a Fapesq (R$ 369 mil - PRONEX), além de equipamentos eletrônicos que serão fornecidos pela China. Conta com o apoio de instituições de pesquisa da China, Reino Unido, França, Uruguai e África do Sul.
Será construído na Serra do Urubu, na cidade de Aguiar, no Sertão da Paraíba, longe das metrópoles e da poluição eletromagnética, em uma área de cerca de 60 metros quadrados. A altura do radiotelescópio é como a de um prédio de 20 andares; certamente transformará a paisagem na Caatinga em Aguiar e irá proporcionar desenvolvimento tecnológico e científico na região e no Estado da Paraíba.